quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Com aumento de ciclistas comercio tem aumento no faturamento

Em junho de 2014, a prefeitura de São Paulo anunciou um ambicioso plano de construção de 400 km de ciclovias até o final de 2015. O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, estabeleceu como uma das premissas que, sempre que possível, a infraestrutura cicloviária não tiraria faixas de rolamento, mas seria implantada em substituição a 40 mil vagas de estacionamento permanentes ou rotativas nas ruas da cidade.


Junto às primeiras implantações vieram as reclamações de comerciantes e moradores, dizendo que “São Paulo não é Amsterdam”, que ninguém anda de bicicleta por aqui e que o comércio iria “quebrar”, pois os clientes não teriam onde estacionar seus carros. A reclamação não se limita apenas aos comerciantes de São Paulo e já foi repetida em outras cidades do Brasil e do mundo. Mesmo em Copenhagen  na Dinamarca, cidade referência na mobilidade por bicicleta também houve reclamação. Mas aos poucos, moradores e comerciantes foram percebendo que as ciclovias não diminuíam o movimento do comércio, ao contrário: aumentavam.

Times Square, em Nova York, antes e depois da abertura às pessoas. Segundo a ex-secretária de Transportes, Janette Sadik-Khan, “todos disseram que seria o fim do mundo”, mas o trânsito acabou fluindo melhor, vendas no comércio aumentaram 50% e o valor dos aluguéis no entorno dobrou. Em Nova York, uma das maiores cidades do mundo e comparável a São Paulo em volume de pessoas, a construção de ciclovias trouxe reclamações, mas também retorno econômico para os comerciantes.


Um estudo do Departamento de Transportes de Nova York mostrou que vias com ciclovias e boas calçadas aumentam o volume de negócios, mesmo em tempos de recessão. Depois da construção de ciclovias na Nona Avenida, negócios locais registraram aumento de 49% em vendas, enquanto em outros pontos de Manhattan o crescimento foi de apenas 3%. Já na avenida Vanderbilt os resultados foram ainda melhores. Após três anos de ciclovias, comerciantes registraram um aumento de 102% nas vendas, enquanto na região o volume máximo atingido foi de 18%. Quem não quer um crescimento de 102% em seu negócio?


O mesmo efeito é notado em vias que foram fechadas para carros e transformadas em áreas apenas para pedestres. O crescimento foi de 179%  após a prefeitura de Nova York converter uma área de estacionamento no Brooklyn em um boulevard. Em locais próximos, onde carros ainda trafegam, o aumento nas vendas foi de apenas 18%. Ah, mas quem vai de carro gasta mais porque pode carregar mais coisas, certo? Errado. Pesquisadores da Portland State University questionaram consumidores em diferentes tipos de comércios, restaurantes e bares quanto eles gastavam, com que frequência consumiam e qual o tipo de transporte eles utilizavam para fazer compras transporte público, de carro, a pé ou de bicicleta. O resultado mostrou que as pessoas de carro gastam mais por visita, mas quem vai de bicicleta visita o local mais vezes e, na média total, consome mais. Os dados mostraram que de carro as pessoas foram a um mercado em média 9,9 vezes por mês e gastaram cerca de US$ 7,98 por visita, perfazendo um total de US$ 79,73 mensais. Já quem estava de bicicleta visitou mercados em média 14,5 vezes, gastou cerca de US$ 7,30 por viagem, o que dá um total de US$ 105,66 por mês.

Já em Melbourne, na Austrália, comerciantes que investem em uma vaga de carro têm AU$ 27 de retorno por hora desse cliente. Um ciclista gasta em média AU$ 16,20 por hora. Cada vaga de estacionamento ocupa um espaço equivalente a seis bicicletas. Com seis vagas ocupadas, o retorno após uma hora é de AU$ 97,20, mais do que o equivalente a três carros. Aumento também em São Paulo. Você, caro leitor, pode estar pensando que esse números são bem legais, mas não se aplicam à realidade de São Paulo, Pois bem, vou lhe mostrar o contrário.


A lanchonete Hooters da Vila Olímpia é um bom exemplo disso. Eles estão localizados bem ao lado de uma ciclofaixa de lazer, que funciona somente aos domingos e feriados das 7h às 16h. Nesses dias, e após a instalação de paraciclos para que eles possam receber bem os clientes que chegam de bike, o faturamento aumentou 15% em média. São oito paraciclos na calçada diante do estabelecimento e cada estrutura permite parar até duas bicicletas, o que dá um total de 16 vagas. “Tem dia que não sobra vaga. Para as novas unidades, já planejamos investir em paraciclos”, afirma o CEO da Hooters, Marcel Gholmieh. Ele diz que, mesmo em dia de semana, o espaço tem sido aproveitado por clientes, em uma demonstração de que o veículo de duas rodas vem ganhando status de meio de locomoção e não apenas de lazer.


Também na Vila Olímpia, na rua Funchal, o The Fifties seguiu o mesmo caminho e instalou paraciclos para melhor receber o público de bicicleta. O local dispõe de sete suportes em U invertido (14 vagas) e a demanda gerou uma ação diferente. “A procura é tão grande que o gerente comprou corrente e cadeado para os clientes que queriam prender a bicicleta ali e não tinham o equipamento”, conta o gerente de marketing do The Fifties, Paulo Henrique. Empresa especializada em fornecer estruturas para o estacionamento de bicicletas, a Ciclomídia foi a responsável por ajudar as duas marcas. “Os comerciantes que estão reclamando das ciclovias em frente aos seus estabelecimentos estão olhando apenas para o lado vazio do copo e deixando de observar uma ótima oportunidade que de atender uma demanda que existe e que hoje eles não atendem. Ciclistas também são consumidores”, afirma o proprietário da Ciclomídia, Eduardo Grigoletto.

Por outro lado, há uma série de comerciantes que mesmo antes da implantação das ciclovias já perceberam o retorno positivo que elas trazem. “Eles nos procuraram para adequar seus comércios para receber bem quem chega pedalando, e estão faturando com isso”, conta Grigoletto. A tradicional Confeitaria Vera Cruz, localizada no Tatuapé, é outro estabelecimento que disponibiliza paraciclos para o cliente ciclista. Um espaço para amarrar o cachorro enquanto as compras são feitas era utilizado por ciclistas, gerando conflitos pela falta de espaço para os cachorros e atrapalhando o fluxo de entrada e saída. O proprietário do local, João Orlando Junior, optou então por instalar paraciclos na calçada em frente à confeitaria. “O número de pessoas que frequentam a padaria de bicicleta triplicou aos finais de semana”, diz Orlando Junior, também ciclista. “Queremos instalar mais dois em um futuro breve.”

Há locais que, além de ter estacionamento adequado para as bicicletas, ainda oferecem descontos e vantagens para os adeptos da magrela. É o caso do Twin Burger, que dá 5% de desconto para quem for de bicicleta. “O sucesso está em saber aproveitar as oportunidades e se adaptar. Enquanto uns reclamam, outros transformam o ‘problema’ em oportunidade”, conclui Grigoletto.

Com as informações: Vá de Bike

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